Sertanejo em vários estilos

YURI FERNANDES DA COSTA SOUSA

O termo “sertanejo” surgiu para designar, muito antes de um ritmo musical, o habitante do sertão nordestino. Atualmente, porém, o gênero “música sertaneja” se refere às canções que surgiram na área cultural caipira, ao sul da tal área sertaneja, em estados como Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins.

Cornélio Pires, folclorista que foi o primeiro a escrever sobre o gênero, descreveu com exatidão em seu livro Conversas ao Pé do Fogo o ritmo sertanejo:
Sua música se caracteriza por letras românticas, por um canto triste que comove e lembra as típicas histórias do sertão, mas sua dança é alegre. É como quase qualquer estilo musical nascido no Brasil: uma mistura de influências e tradições que acabaram gerando um ritmo original e único.

Vamos saber mais sobre a história desse ritmo tão apreciado de norte a sul do País?
As primeiras modas de viola. No começo chamadas por nomes como “modas”, “toadas”, “cateretês” ou “emboladas”, as primeiras canções do estilo surgiram por volta de 1910, com a viola como instrumento principal. A região onde as primeiras músicas sertanejas foram oficialmente registradas é o interior do estado de São Paulo – embora a teoria mais aceita seja a de que os migrantes nordestinos levaram sua influência musical para o lugar: principalmente no começo do século XX, era muito comum o movimento de pessoas do sertão para o estado paulista, para fugir das secas e procurar melhores condições de vida.

As primeiras duplas As primeiras duplas a registrar o gênero nos saudosos discos de vinil foram Zico Dias e Ferrinho, Laureano e Soares, Mandi e Sorocaba e Mariano e Caçula – que, além de começar a tradição das famosas “duplas sertanejas”, que permanece até hoje, lançaram as “modas de viola”, com temas ligados principalmente a fatos do cotidiano, e narrações em tom irônico.

Os intérpretes mais famosos dessa primeira fase são Tonico e Tinoco, que em 1946 gravaram Chico Mineiro, um clássico da música caipira. Nos anos 60, Sérgio Reis passa a gravar o repertório tradicional sertanejo, popularizando o estilo. Como acontece com todo ritmo musical, o sertanejo aos poucos incorporou novos elementos e se modificou: já nos anos 70, a dupla Milionário e José Rico trazia influências da tradição mexicana, com violinos e trompetes e uma forma de cantar mais soluçante, que se tornou característica dos músicos.

Novos instrumentos musicais, como a guitarra, a influência do country norte-americano (que ditou as roupas típicas do estilo, como as botas, os chapéus e os cintos de fivelas grandes) e a mudança do cenário do interior para os centros urbanos deram origem, na década de 80, ao chamado “sertanejo romântico” – domínio de artistas como Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo & Luciano e João Paulo & Daniel, responsáveis pelo sucesso de Fio de Cabelo, Pense Em Mim e Entre Tapas e Beijos, entre tantas outras. Esta fase do sertanejo é considerada o primeiro gênero musical de massa produzido e consumido no próprio Brasil.

E o sertanejo universitário? Já o recente e atual sucesso batizado de “sertanejo universitário” foi, até agora, a vertente do gênero que mais modificou sua forma tradicional. Instrumentos como a sanfona se tornaram mais eletrônicos, dando origem a um ritmo um pouco mais acelerado; que incorporou elementos do pagode, do arrocha e até mesmo do axé e do funk.

A temática normalmente gira em torno de festas e mulheres, muitas vezes com uma abordagem cômica – e o rótulo “universitário” surgiu ao se perceber que a maioria dos apreciadores do estilo era, pelo menos no início, formada por adolescentes.

Com tudo isso, esta é até agora a versão do sertanejo que mais marca presença em festas, e a dança sertaneja ganhou as baladas do país inteiro. Do mundo inteiro, talvez: ao contrário de seus antecessores, o sertanejo universitário é quase tão consumido no exterior quanto por aqui. Quem não se lembra do sucesso internacional de Ai, Se Eu Te Pego, de Michel Teló? Outros representantes do estilo são Gusttavo Lima, Jorge & Mateus, João Lucas & Marcelo, João Neto & Frederico, Luan Santana e Munhoz & Mariano.

Mesmo que a vertente universitária seja atualmente a comercialmente mais bem-sucedida do país, há espaço para todas as facetas do sertanejo, até mesmo o “de raiz”, mais antigo e tradicional. A música sertaneja – apesar de ter surgido como um gênero de produção independente, voltada para um público muito específico – é um dos estilos musicais brasileiros mais populares e consumidos. Os fãs agradecem!